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terça-feira, abril 18, 2006

Gripe das aves


A gripe das aves é uma doença causada por um vírus, sendo identificada pela primeira vez em Itália há mais de 100 anos.


Esta doença é causada pelo grupo de vírus ARN da família Ortomixoviridae, embora seja um subtipo de vírus tipicamente aviário (H5N1), também se transmite esporadicamente aos Humanos, por via respiratória e conjuntival, especialmente os que contactam com as aves doentes e ou infectadas.


Este vírus é muito patogénico para as aves, especialmente para as domésticas, sendo elevado o risco da doença se propagar rapidamente transformando-se numa panzootia (animais) ou numa pandemia(homem), a disseminação do vírus na natureza é efectuada por aves silvestres, especialmente as aquáticas (patos, gansos, cisnes, galeirões, abibes, gaivotas, maçaricos, cegonhas), aves nas quais este vírus, em regra, não tem grande expressão clínica.

As aves silvestres que tendo estado doentes sobreviveram à doença ou as aves que estando infectadas não expressaram doença (portadores assintomáticos) constituem o principal risco para a propagação do vírus de umas regiões para outras.
Os principais sinais de doença nas aves são: Apatia muito evidente, dificuldades respiratórias, corpo em bola, penas eriçadas associados a queda da produção (ovos) e elevada mortalidade.

O risco do homem contrair esta doença é baixo e não foi comprovado qualquer caso de contaminação através do consumo de carne de aves e ovos.


Depois desta pesquisa pelo site do Ministério da Agricultura e como a região de Aveiro e mais concretamente o baixo Vouga lagunar estão assinalados como áreas de risco elevado, o estarrejahotel decidiu fazer algumas perguntas ao biólogo responsável pelo projecto Bioria, Dr. Rui Brito*, que prontamente nos respondeu ao que desde já agradeço em nome do estarrejahotel.


Estarrejahotel:
A época de nidificação que está a decorrer transforma Estarreja e a zona de Aveiro num dos pontos mais preocupantes em Portugal para a entrada do Vírus?
Dr. Rui Brito:
Não é verdade esta afirmação pois se o vírus tivesse que ter entrado já tinha acontecido uma vez que por esta altura a esmagadora maioria das aves que vem cá nidificar já chegaram e a época de nidificação já começou. Além disso as aves que vem cá nesta época do ano reproduzir-se são migradores provenientes de países africanos a sul do deserto do sara, zona onde até agora ainda não foi detectado qualquer foco da doença e a juntar a isso estas aves não pertencem aos grupos de risco mais afectados pelo vírus que são as aves aquáticas, nomeadamente patos, cisnes e gaivotas. Portanto é importante desmistificar o alarmismo com que muitos órgãos de comunicação social tratam a informação, informando mal e apenas criando um pânico injustificado. É importante referir que morrem muito mais seres humanos de gripe normal do que morreram em 10 anos de gripe aviaria.



Estarrejahotel:
Quais das espécies de aves que nidificam no baixo Vouga lagunar as de maior risco de transportarem o vírus?

Dr. Rui Brito:
Das espécies que nidificam não há qualquer risco eminente, pois até agora não foi detectado qualquer problema. O risco que existe, e importa referir que mesmo esse é muito diminuto, ao contrário do que os órgãos de comunicação social fazem transparecer, está no Outono quando os patos que são as espécies mais susceptíveis de contrair e transportar a doença que foram nidificar nos países do norte da Europa regressarem para passar cá o Inverno poderem eventualmente chegar cá infectados. No entanto tal não ocorreu no Outono passado de 2005, onde já tínhamos alguns focos da doença e ela não chegou cá, dado que as aves contaminadas morrem rapidamente não conseguindo migrar uma distância grande e portanto não chegando cá. Além disso os números de aves selvagens até agora encontradas contaminadas são sempre números muito reduzidos se tivermos em consideração o tamanho das populações na Natureza, portanto o risco é reduzido. Importa ainda referir que a gripe aviaria não apareceu ontem, mas já existe há cerca de 10 anos e "apenas" vitimou nesse período cerca de 100 pessoas o que se pensarmos à escala global e de modo naturalista não é nada.

Estarrejahotel:
Qual o risco que o cidadão corre ao fazer o percurso do projecto Bioria?

Dr. Rui Brito:
O risco é praticamente nenhum, aliás o risco é o mesmo em qualquer local, pois o contágio da doença apenas ocorre pelo estreito e longo contacto entre o homem e as aves o que com aves selvagens não se verifica. É muito maior o risco em explorações aviarias do que com aves selvagens. Por isso é importante esclarecer que as pessoas podem continuar a fazer o percurso de forma perfeitamente tranquila, pois não correm qualquer risco, o que se tem verificado, pois continuamos a ter actividades na área e as próprias pessoas continuam a visitar livremente a zona.

Estarrejahotel:
Quais as medidas que estão a ser tomadas pelo projecto directamente e com que apoios externos ao projecto (ministério) para monitorizar e controlar a zona?

Dr. Rui Brito:
Não estão a ser tomadas quaisquer medidas no âmbito do projecto BioRia dado que este tipo de matéria extravasa as competências do projecto. No entanto e pela presença constante no terreno acabamos por efectuar uma monitorização e até à data nada de anormal se verificou. Esta monitorização é feita unicamente pela nossa vontade e disponibilidade uma vez que não nos foi pedido qualquer tipo de colaboração nesse sentido nem disponibilizado qualquer apoio externo ou interno.

Estarrejahotel:
Existe um plano de prevenção e controle para o caso de se vir a registar algum caso na nossa zona?

Dr. Rui Brito:
Não fazemos a mínima ideia. Apenas sabemos que existe um plano de contenção a nível nacional, no entanto a nível local desconhecemos os procedimentos e se existe algum plano definido.

Estarrejahotel:
Acha que o que se está a fazer em prevenção é suficiente ou estamos a cair no exagero?

Dr. Rui Brito:
Acho que é importante e suficiente o que se está a fazer e em algumas medidas acho mesmo exagerado, nomeadamente no que se prende com a declaração obrigatória das aves domésticas (que não nos parece 100% exequível). Relativamente à monitorização acho que é suficiente. O que se verifica agora é que qualquer ave que as pessoas encontram morta causa um enorme alarido o que não se verificava até agora. É importante explicar às pessoas que as aves morrem de mil e um motivos mais para alem da gripe das aves, sempre morreram e vão continuar a morrer, ou de outras doenças, ou de velhice ou mesmo de fome quando há falta de alimento. Parece que as pessoas agora se esqueceram disso. A única situação onde ainda não foi tomada nenhuma medida e que aí sim existe algum risco quer pelas espécies envolvidas quer pelo contacto que existe é no que respeita à caça, que no nosso entender deveria ser suspensa este ano até se ter dados concretos da migração outonal que demonstrassem não terem chegado aves contaminadas a Portugal.

Estarrejahotel:
Acha que a população de Estarreja está suficientemente informada sobre o risco desta proximidade ou mesmo sobre a doença?

Dr. Rui Brito:
Acho que a população de Estarreja, tal como a de todo o país estão mal informadas e não tem a noção real da situação, uma vez que não sabem como a doença se propaga, não tem conhecimentos sobre as espécies que apresentam mais riscos e isso está já a ter consequências negativas para as aves e para a conservação da Natureza, uma vez que por falta dessa informação de qualidade há pessoas por esse país fora a destruir ninhos de andorinhas e de inúmeras outras espécies de aves que não apresentam qualquer risco. As aves que apresentam algum risco não se encontram neste momento cá, visto que não se reproduzem no nosso pais. Só nidificam cá as espécies residentes ou seja que nasceram cá e vivem cá toda a sua vida e que portanto não apresentam qualquer risco neste momento e as espécies migradoras vindas de África que também não apresentam qualquer risco neste momento.
Já repeti muitas vezes esta ideia mas vou repeti-la uma vez mais, apresentam muito mais risco as espécies domésticas de capoeiro do que as aves selvagens e desde que não exista uma proximidade e um contacto intenso com as aves ou os seus dejectos o risco é mínimo. As pessoas que tem contacto com aves domésticas e/ou selvagens (patos e espécies aquáticas) deverão utilizar luvas e máscara por precaução.


Ou seja, em jeito de síntese importa desmistificar um pouco esta história, pois na realidade o risco existente é baixo, embora esteja fortemente empolado pela comunicação social e desde que sejam observados os cuidados básicos não há qualquer problema eminente.

Importa também referir que de todas as aves que nascem todos os anos (e são muitos milhões em todo o mundo e muitos milhares em Portugal) 80% morre por motivos vários antes de atingir o primeiro ano de vida e isso já é assim há muitos milhões de anos e chama-se selecção natural, em que apenas os mais aptos sobrevivem, portanto todas as aves que temos visto serem analisadas em Portugal pelo pânico que agora existe fazem parte desses 80 % ou então morrem por outras doenças ou velhice. A única área onde ainda não vimos ninguém a actuar é na questão da caça que deveria no nosso entender ser suspensa, tal como já ocorreu em alguns países da Europa, apenas como medida de precaução, até sabermos que na migração outonal não existiu qualquer chegada do H5N1 a Portugal.
*Dr. Rui Brito reside no Porto é licenciado em Biologia – Ramo de Biologia Animal Aplicada pela (FCUP), Pós-graduação em Eng. Do Ambiente (FEUP).
É responsável, desde 2002 pela monitorização e estudo da ecologia da reprodução da colónia de Garça-vermelha em Salreu, autor e responsável pelo projecto Bioria (projecto de conservação da natureza) da C.M. Estarreja.